sexta-feira, 15 de abril de 2011

Da contradição entre as funções da escola


Nas sociedades contemporâneas, e desde a escolarização de massa ocorrida a partir da segunda fase da Revolução Industrial, a escola objetiva preparar alunos de forma que estes sejam absorvidos pelo mercado de trabalho, fazendo-os adquirir não apenas o conhecimento específico para tal, mas também as competências e atitudes implicadas nesse processo (noções de hierarquia e autoridade são muito importantes aqui – lembra da palmatória?). A dificuldade desta função está em definir no que consiste essa preparação e como ela se dará: tratará de promover igualdade de condições e oportunidades ou será reafirmação das diferenças sociais, reproduzindo as discrepâncias sociais?
Mas à escola foi delegada mais uma função: especialmente nas sociedades democráticas, é também sua função principal formar cidadãos para a intervenção na vida pública – formar para a cidadania. Entretanto, esse objetivo é intrinsecamente contraditório em relação ao anterior, uma vez que implica em conceitos avessos à lógica do mercado e do capital – igualdade de direitos e de oportunidades, liberdade de escolha, de opinião etc.
Dessa forma, a socialização promovida no ambiente escolar reproduz a ideologia que permeia o funcionamento da sociedade: seus “[...] valores são o individualismo, a competitividade e a falta de solidariedade, a igualdade formal de oportunidades e a desigualdade ‘natural’ de resultados em função de capacidades e esforços individuais” (GÓMEZ, 1998, p. 16). Legitimada pelo que suas escolas reproduzem, a sociedade discriminatória, desigual e injusta será tida como reflexo natural de um processo que evidencia esforços e capacidades individuais.

Conforme citado acima, utilizei o capítulo 1 deste livro:
SACRISTÁN, J.G. E GÓMEZ, A.I.P. Compreender e transformar o ensino. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. A imagem é de Tarsila do Amaral.

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